Caga Sentenças

Todo o Português caga a sua sentença. Neste espaço venho deixar a minha poia.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Conversas de café

Hoje fiquei triste às 10h00 da manhã. Fiquei a pensar que já não vou viver tempo suficiente para ver um Portugal moderno, um Portugal com mentalidades um pouquinho mais evoluídas.
Na rádio falava-se do ultimo dia de campanha eleitoral, lavavam-se as cestas da "vindima eleitoral", falava-se em conclusões, balanços, sondagens, barómetros, expectativas, e eis que paro para beber um café.
Entro no café (em Pombal) e na TV está a passar o programa da manhã da TVI com o Manuel Luis Goucha (MLG) e a outra menina loura. No balcão estava uma revista cor de rosa, não sei se era a Maria ou a Ana, mas reparei que na capa, estavam meia duzia de frases sobre a vida pessoal do MLG, Entre as quais, uma frase de que MLG pretendia adoptar uma criança.
Estavamos 3 pessoas no pequeno café. Eu, a empregada (ou proprietária) do café e um senhor que devia ter os seus "late 30 s"
Nisto ouve-se o Goucha a dizer que estava com receio de ter febre e a sua companheira de programa começa a contar a história de que o MLG era um hipocondriaco e a fazer piadas sobre essas suas paranóias de saúde.
O senhor que estava ao balcão comenta entre risos "Deve ter sido o namorado dele que não lhe deu o que ele queria de manhã, de certeza", e a senhora do café riu-se e ripostou que "ele agora até quer adoptar uma criança, veja lá, pelo menos tá ali na revista". Ao que o senhor do balcão responde:
-"Eu não tenho nada contra essas pessoas, desde que não venham ter comigo"- tipico comentário homofóbico. Se alguma vez tiverem uma conversa com um homem que diga isto, é só insistir mais 5 minutos na conversa, que as frases seguintes serão qualquer coisa como "Paneleiro de merda, rabeta do caralho..." e por aí...
E o senhor do balcão continua a atirar pérolas para o ar:
"Conheço uma pessoa - que até é jornalista veja lá (Nota: como se os homossexuais, como doentes que são não pudessem ocupar cargos decentes)- que foi casado e descobriu passados alguns anos que era... assim. E ele tem um filho, que mora com o pai e o namorado. Ao namorado do pai ele chama-lhe «tio Paulo», mas a criança não é burra e já sabe que algo de estranho se passa..."- e continua...- "é como lhe digo, eu não tenho nada contra as opções das pessoas, mas não concordo que possam adoptar crianças, porque a criança cresce naquele ambiente e quando for grande, tem muitos mais possibilidades de ficar como os pais, porque é aquilo que vê em casa!"- falando disto com uma certeza clínica de quem acaba de diagnosticar paneleirice por contágio.
Ora, aqui foi a parte em que eu paguei o café e vim embora de volta para o meu carro, incrédulo, e voltei a ouvir o debate politico da TSF enquanto ao mesmo tempo que pensava que realmente em Portugal coabitam vários mundos diferentes e eu até tenho a felicidade de provar de alguns (tão opostos), ao contrário de alguns amigos que tenho que só conhecem o mundo da malta "fixe", dos artistas, da intelectualidade, e até da "faculdade", esquecendo que a grande maioria das pessoas vive outras vidas, a outros ritmos, com outros interesses e perspectivas. Ah, e como eu adoro essa diferença!
Pensei que devia ter perguntado ao senhor do balcão se preferia que as crianças não fossem adoptadas e crescessem sem amor, ou se preferia uma criança criada num seio familiar heterossexual violento ou que haja um caso de miséria, fome, alcoolismo, droga, ou prostituição?

E isso, senhor do balcão, será que se pega?

5 Comments:

  • At 8:10 da tarde, Blogger mg said…

    aí portugal, de que tu estás á espera?......

     
  • At 10:10 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    "se preferia que as crianças não fossem adoptadas e crescessem sem amor, ou se preferia uma criança criada num seio familiar heterossexual violento ou que haja um caso de miséria, fome, alcoolismo, droga, ou prostituição?"


    só há duas hipoteses?
    um bocado fascizante não achas ?

     
  • At 10:17 da tarde, Blogger Unknown said…

    Tens razão anónimo, eu escrevi mal a coisa. Eu não queria por isso como uma escolha entre essas 2 opções. O que queria dizer era se o senhor do balcão preferia ter um casal homossexual que educasse e amasse uma criança, ou se por outro lado ele preferia uma situação hostil para a criança com um casal heterossexual. Não fui bem claro. Desculpa.

     
  • At 1:56 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    fascizante na mesma.

     
  • At 11:55 da tarde, Anonymous Rui said…

    curioso, eu passei mais ou menos pela mesma situação a semana passada, quando uma colega de trabalho lia uma revista cor de rosa e com espanto disse "ai...eu não sabia que o malato......" ao que eu completei "é gay" e ela com algum espanto e embaraço respondeu "...sim..." e depois de ela dizer que não tem nada contra os gays porque cada um é livre de ser como é ela acaba com a frase "nunca mais vejo o programa dele" e fecha a revista..
    eu perguntei se essa decisão era por ser ele ser gay ao que ela respondeu que não, "não tinha nada contra eles" insisti em saber a razão daquela decisão e por fim ela responde que não é por ele ser gay, é apenas porque ele a desiludiu muito como pessoa, porque ela não o tinha idealizado assim.. e acabou dizendo que dois homens ainda percebia, agora duas mulheres é que não.. eu perguntei porque e a empregada de limpeza que entretanto parou para ouvir a conversa respondeu "ai Rui, tem a santa paciência mas duas mulheres é que não, isso não!!" revoltada como se eu tivesse acabado de dizer que Deus não existia..

     

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