Caga Sentenças

Todo o Português caga a sua sentença. Neste espaço venho deixar a minha poia.

segunda-feira, setembro 15, 2008

os municipios e a cultura

assiste-se neste momento a uma proliferação de espaço culturais e associações no país. era já sem tempo de arregaçar as mangas. há uma colheita cada vez mais nova de pessoal sequioso de organizar espectáculos, exposições, debates. em parte também pode ser vista esta multiplicação devido a um fenómeno de contágio, a par com o advento da internet e comunicações móveis. hoje em dia, é mais fácil contactar com os artistas, que no passado eram assombrados pelo mito de intocáveis. está mais democratizado o acesso, e consequentemente, mais abrangente o espectro de espectáculos produzidos e promovidos pelas diversas regiões.
a contrariar as vicissitudes encontradas, têm sido encontradas novas formas de financiar, de acolher, de apresentar. palcos alternativos, diferentes formas de cobrar entradas, alianças com organismos privados e estatais, uma miríade de opções que se não esgota, de forma que de dia para dia, há uma nova forma a nascer, assim como cada mês há novos artistas debaixo do holofote.
é sabido da governação desinteressada, populista, aborrecida dos agentes culturais com mais responsabilidades. falo das autarquias e afins, onde não conheço uma onde haja a figura do programador. não falo do programador-jardineiro, ou o programador-mas-que-também-tem-a-pasta-do-desporto-e-obras. estou a falar de um programador, íntegro, sério, competente, com visão. e isso há muito poucos. mas neste momento, o que se assiste é à formação no terreno destes novos e muito a sério programadores.
naturalmente, em pouco tempo, as autarquias definiram planos e acertaram agulhas para integrar nos seus quadros estes novos agentes culturais. onde se lê integrar, leia-se explorar. é certo que para uma autarquia é de todo o interesse alguém com pulso e interesse a organizar as coisas que tinham todo o dever de organizar. com a mais valia de que, se for uma programação exterior, cativa mais públicos. públicos que a câmara não consegue cativar por uma relação aspérgica que tem com os seus próprios munícipes.
de um ponto de vista futuro, creio que estes agentes se fartarão, e talvez depressa, desta relação de pedinte.
“desculpe, pode-me deixar organizar um evento cultural?”
é, pois, urgente, pensar neste futuro. onde temerosos, os agentes terão de encontrar soluções rápidas e eficazes num país onde o mecenato cultural é uma miragem, onde o novo é sempre novo, desde que brilhe e se acaricia sempre quem faz formação no estrangeiro. (é sempre cómico o actor x que foi a los angeles 2 semanas ter um workshop com um ex aluno do lee strasberg, ou exemplos quejandos, que há bastantes)
qual é, no final, a ideia que fica? a de que a cultura do país está mais democrática, felizmente na mão de alguns interessados, pulsante e viva como um infante e com hipótese de se tornar autónoma. na verdadeira acepção da palavra.
o meu repto segue então, assim, direccionado a todos os que se dedicam a promover, produzir, e porque não, consumir espectáculos e arte de toda a espécie, que se manifestem no sentido de se criar uma estrutura que possa permitir a mobilidade dos novos artistas, comissários, produtores, companhias e todos os que fazem a arte possível.
e aqui, em vez de um gritante panfleto agitprop, digo apenas e baixinho: bora lá?

3 Comments:

  • At 10:47 da tarde, Blogger Unknown said…

    não posso estar mais de acordo. Portugal vive o melhor momento cultural de sempre, de uma forma massiva, que passa ao lado das grandes massas.
    E tá bem assim.

    Quanto aos autarcas como programadores de uma agenda cultural, dada a desorientação, acho positivo que peçam ajuda a quem tem ideias e que o sabe fazer de uma forma poupada, ao contrário da forma arrogante e megalómana que se fazia há uns anos. Quem tem a ganhar com isso é o publico e associações independentes, que estão sequiosas por oferecer cultura.
    Entendo que também não deve haver uma repulsa dos "agentes" aos autarcas ("creio que estes agentes se fartarão, e talvez depressa, desta relação de pedinte.")
    , na medida em que se podem complementar num acordo que beneficia a população e também a imagem da autarquia.

    Com o passar do tempo podia ser que até a população aderisse mais à cultura.

     
  • At 2:33 da manhã, Blogger ++!++ said…

    Ó Sr.Zé:

    O que é a cultura?

    É assim tão importante?

    Existe má e boa cultura?

    Ou desde que seja cultura é cultural?

    Aquilo que provoca a cultura será mais importante que o exibicionismo cultural?

    O que provoca a cultura ?

    As pessoas ? As ideias ? A educação? O conhecimento ? Os sentimentos ? A razão ?

    O que nos falta afinal ?

    Cultura ou Identidade ?

    Afirmação ou Descoberta ?

     
  • At 9:25 da tarde, Blogger poisbem said…

    tiago (sem a parvoíce do senhor):

    tanta questão para quê?
    porra, é um texto, concordas ou não?
    o que noto é que tens imensas perguntas nessa cabeça. eu quanto ao que falo, tenho algumas certezas e muitas dúvidas, mas tenho trabalho tanto numas como noutras.
    faço espectáculos, produzo outros, consumo outros.
    e assim , comigo, cheguei a esse texto que aqui expus.
    é o q acho q falta é alguma união entre os produtores, apenas.
    e ao mesmo tempo, estava a resaltar alguns dos bons exemplos sem os nomear.
    e estava a atacar quem opera de costas voltadas.
    se isto não respondeu a nenhuma das tuas perguntas, é pq se calhar não interessa assim tanto.
    e fiquei, por meio da tua intervenção a não saber pevas do que pensas tu sobre o assunto.
    aqui há uns anos discutíamos isto e mais algumas coisas com um fervor interessante.
    se isto é um blog de opinião e confronto, então... o que achas tu do assunto?
    isto é muito mais interessante do que me perguntares o que é cultura.
    além de que julgo teres um dicionário em casa.
    pq se era a minha, digamos, "definição pessoal" essa tb a sabes.
    por isso nao intendo a chuva de interrogações.
    um bem haja e não me chames de senhor, que não te fica bem nem a ti nem a mim.

     

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