Caga Sentenças

Todo o Português caga a sua sentença. Neste espaço venho deixar a minha poia.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Alhos e bugalhos

Doutor António de Oliveira Salazar
Salvador da Nação Portuguesa

No dia da Rainha Santa Isabel, a 4 de Julho de 1937, pelas 10,25 h. foi miraculosamente salvo dum infamissimo atentado contra a sua vida.

Preces
V. Haja paz ó Deus, pelo vosso poder
R. E abundância nas nossas casas.
V. Pelos merecimentos e preces da Rainha Santa Isabel
P. Sêde propício, Senhor, ao vosso povo.
V. Oremos pelo nosso Chefe Salazar
R. O Senhor o conserve, e lhe conceda longa vida, e lhe dê felicidade sôbre a terra, e não o abandone jamais às ciladas dos seus inimigos.
P.N. - A.M. - OI.P.
Concedemos 50 dias de indulgência a quem recitar devotamente estas preces.
Podem imprimir-se. Coimbra, 28 de Julho de 1937.
António Bispo de Coimbra


Não é novidade que a Igreja Católica deu apoio a ditaduras pela Europa e América Latina fora. Entre os apoios dados contam-se regimes como o de Franco, Mussolini ou ao nosso Salazar.
O texto acima é uma transcrição de um documento em apoio à ditadura por parte das altas instâncias católicas nacionais, num periodo que o Estado Novo não escondia as suas simpatias pelo fascismo.
Essa mesma ideologia esteve na origem de alguns dos periodos mais negros da história recente da Humanidade. Essa mesma igreja apoiou ou foi pelo menos condescendente com alguns dos maiores facínoras do século XX. Que fazer então com esta igreja? Será a Igreja Católica sinónima de fascismo? Deveremos julgá-la e bani-la? Sim?
Não. Apesar desta face negra a Igreja Católica defende, mesmo que muitas vezes apenas em teoria, ideais nobres. A Igreja não é o mesmo que fascismo, apesar de alguns dos seus membros terem dado o seu apoio e terem as suas culpas.
Perseguir a Igreja seria apenas um exercício de demagogia e de generalização. Seria misturar alhos com bugalhos.

Na sua homilia do Dia Mundial da Paz, o Papa Bento XVI comparou o aborto e a eutanásia (entre outros assuntos) ao terrorismo. Misturou alhos com bugalhos. Por trás de cada aborto ou de cada caso de eutanásia existe um drama pessoal.
Quem pede a eutanásia não está simplesmente farto de viver, está apenas farto da vida que leva. E por vezes a essa vida chamá-la como tal é apenas o prolongar de um sofrimento que retira à vida toda e qualquer dignidade ou esperança.
Quem aborta tem dentro de si uma angústia que levará consigo durante anos, talvez mesmo para o resto da vida. Poderá ser mesmo obrigada a fazer tal acto por uma questão de quase sobrevivência, num país em que uma mulher grávida muitas vezes não é vista como compatível com uma mulher que produz.
Não existe vida como tal desde o primeiro instante. O embrião é acima de tudo um projecto de vida, um limiar. Assim como não se pode chamar planta a uma semente ou semente a uma planta.
Não se pode impor pontos de vista morais, impor a castidade e esperar que esta colha frutos em tempo útil. Enquanto se espera que as pessoas mudem os seus hábitos e se espera que os métodos anticoncepcionais sejam 100% eficazes quantas mulheres morrerão por falta de assistencia porque não puderam abortar em segurança? Quantas crianças nascerão sem ser desejadas? Quantas crescerão sem o amor de mãe e pai? Quantas adolescentes não irão saltar num ápice da infância para a idade adulta? Quantos recem-nascidos não irão acabar entre restos de comida, garrafas vazias e caixas usadas?
Uma mulher que na sua angústia decide não ter um filho ou alguém que devido a dores incontroláveis prefere a morte à vida não são comparáveis a um terrorista. Um terrorista defende a sua causa (por vezes justa) sem olhar a meios para atingir os seus fins atingindo indiscriminadamente terceiros. Uma mulher que aborta ou alguém que desiste de viver usa os meios de uma forma para si dolorosa para evitar que seja o seu fim como pessoa com dignidade humana.

1 Comments:

  • At 1:50 da manhã, Blogger Chakal said…

    Por partes:
    1- As maiores religiões do mundo, embora com princípios morais similares, sempre se viram envolvidas em carnificinas. A partir do momento em que o institucionalismo toma conta de uma crença popular, a coisa descamba e bastam meia-dúzia de filhos da p*ta para estragar o trabalho de todos os outros que realmente sentiram os princípios desse código moral que os rege.
    2- Quando a "Instituição" Católica (apostólica romana) escolheu este personagem para seu líder, fiquei realmente convencido que o "fumo branco" do concílio deve ser altamente estupefaciente. Tanta gente séria no mundo e escolhem um gajo com ligações antigas ao regime Nazi...
    3- Quanto ao aborto, digo o que disse a muitos amigos e conhecidos meus depois do anterior referendo: se levantarem o cú da cama/sofá para ir votar, de certeza que o sim ganha. Ser livre de escolher fazer um aborto é um direito que não pode ser negado. Uma Igreja que matou mulheres por acusações de bruxaria devia ser proibida de fazer/financiar publicidade a favor do Não!

     

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