Anna Politkovskaia (1958-2006)
Há guerras e guerras. A Tchetchénia permanece um nome exótico desconhecido da maioria e um país em guerra e sob ocupação convenientemente esquecido. Não convem hostilizar a Mãe Rússia que se vai tornando o principal fornecedor de hidrocarbonetos da Europa em substutuição do cronicamente instável Médio Oriente.
Fecharam-se os olhos à Primeira Guerra Tchetchena (1994-96) que no lugar de se tornar um passeio das tropas russas transformou-se no pesadelo do Kremlin com 25 000 soldados mortos em combate e milhares de tchetchenos executados por uma força invasora que não fazia prisioneiros. Fecharam-se os olhos às 4 000 explosões que Grozny, a capital tchetchena, sofria por hora.
Seguiu-se a segunda guerra, em 1999, e novamente a vista grossa. E novamente o abraço da Mãe Rússia sobre Grozny, cidade sitiada sem direito a um cessar fogo para evacuar os feridos ou para permitir a presença de organizações humanitárias.
O conflito tem sido visto como algo distante e irreal. Graças ao contributo dos políticos russos que, para que se mostre ao mundo um ambiente de estabilidade e a barbárie dos terroristas tchetchenos, a realidade tem sido maquilhada, podada e omitida para consumo interno e externo. Ficamos a desconhecer um país com um governo fantoche, com as infraestruturas totalmente destroçadas, com um chão envenenado através da queima de petróleo onde o principal cultivo é hoje a mina antipessoal. À tortura e ao genocídio os tchetchenos respondem com o terrorismo. Não os aprovo mas também não os condeno.
Para os Russos é uma guerra contra o terrorismo, para os Tchetchenos é a luta pela sua sobrevivência como nação dona dos seus destinos. Para os outros, como nós, são meia dúzia de linhas que ocasionalmente lemos na imprensa. Quase sempre do mesmo ponto de vista, o do invasor que se faz de vítima.
Este fim de semana foi abatida Anna Politkovskaia, a jornalista que denunciou os excessos da democrática Mãe Rússia na Tchetchénia. Foi o décimo segundo assassinato de membros da imprensa russa desde que Vladimir Putin subiu ao poder. A Liberdade de Informação ficou mais pobre. Há democracias e democracias...
4 Comments:
At 12:51 da tarde, Anónimo said…
É triste verificarmos que esse grande país que é a Rússia continua a ser marcada por um clima de violências desenfreadas, de que já vem sofrendo desde há algumas centenas de anos a esta parte...
Está na 'massa do sangue' das suas elites drigentes!
É caso para nos perguntarmos: mas, afinal, que gaita de democracia é aquela?!
At 5:54 da tarde, Barão da Tróia II said…
O Tio Puttin não esqueçe que lhe morde os calcanhares, essa é a verdade.
At 11:34 da tarde, Anónimo said…
O poder gera a obcessão e esta a intolerância que é parceira da violência.Foram muitos anos de egocentrismo e cultura da personalidade que vai levar décadas até desaparecer. Haverá uma nova geração que se regerá por outros principios, respeito, humanismo, cooperação. Até lá cairão muitas Annas Politkovskaias para que essas novas gerações aprendam o significado de DIGNIDADE e LIBERDADE.
At 8:02 da tarde, Anónimo said…
Não esquecer que o "Grande Presidente Putin" era do KGB! Há velhos hábitos que custam a eliminar. E assim eliminam-se opositores á "Democracia Russa". Recomendo uma série documental que dá na SIC Noticias aos Domingos por volta das 21:30 ou 22:00 (não sei bem ) que mostra como anda a sociedade politica - e mafiosa - naquele País.
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