Somos meros espectadores
Nas últimas semanas multiplicaram-se as notícias acerca das manobras na Bolsa de Lisboa. É um espectaculo macabro de antropofagia entre empresas.
Primeiro foi a história da OPA da Sonae sobre a PT, depois foi a vez de uma nova OPA em que o BCP pretende engolir o BPI de uma só garfada. Pelo meio ficaram as contra-OPAs e o anúncio que uma delas, a realizar-se iria atirar para o desemprego 3000 trabalhadores. Reorganização obriga.
Desconheço qual as vantagens para o cidadão comum destas manobras bolsistas, reconheço que a realizarem-se as OPAs serão, os que muito já têm, quem irá beneficiar dos seus proveitos. Para já, o facto do anuncio de 3000 despedimentos num país em que o desemprego toma proporções alarmantes e que se diz em crise, deveria causar-nos algumas inquietações. E nós lá vamos assistindo às notícias como meros espectadores, impotentes para dar uma opinião que seja levada a sério, e anestesiados com o delírio bolsista do PSI-20. Mas quanto mais se sobe maior é a queda.
Este é o mundo em que vivemos. No caso português, estas OPAs são meros tostões quando comparadas ao que se faz nas principais praças bolsistas. No nosso caso, 3000 despedimentos são uma gota no oceano quando comparadas a anúncios e prácticas das multinacionais que de quando em vez despedem em simultâneo, num piscar de olhos, muitos mais milhares em diversos países. Mas tudo isto é normal num mundo a caminhar para uma globalização irreversível em que as empresas se querem grandes e poderosas para poderem competir entre si.
As notícias falam-nos dos milhares de despedimentos, meros números frios de estatística sem rosto. Não nos falam das consequências óbvias, a cada despedimento corresponde um drama humano que toca às pessoas que o rodeiam. Cada despedimento pode significar uma família que perde uma boa parte dos seus rendimentos disponíveis para a alimentação, para o pagamento de dívidas ou para os planos futuros dos filhos.
Somos meros espectadores dos jogos de poder de uns quantos iluminados. Espectadores e sobremesa. Bom apetite.
4 Comments:
At 11:34 da manhã, Chakal said…
Já o Marx dizia que o capitaliso se comia a ele próprio, numa prática canibal que leva a um fim absurdo: uma mega corporação que domina a vida de todos. Vai-se a ver e um dia ainda viveremos todos num 1984 Orwelliano...
Já faltou mais.
At 10:29 da manhã, Anónimo said…
Deixa lá que as ideias de Marx também eram muito boas! É só ver como ficou a Europa de Leste com essas ricas ideias.
At 1:50 da tarde, Chakal said…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
At 2:03 da tarde, Chakal said…
Não estou a defender a supremacia da ideia de ninguém, estou apenas a constatar um facto. E não deixa de ser verdade que o sr. fez uma boa previsão das coisas. Quanto ao fim de uma ou de outra ideologia, só podemos especular, mas parece-me que o fim último do capitalismo não é tão flor que se cheire como a utopia comunista (pura e não adulterada por outros que associaram o seu nome ao marxismo, como Lenine, Mao ou Castro)
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