Caga Sentenças

Todo o Português caga a sua sentença. Neste espaço venho deixar a minha poia.

sábado, fevereiro 18, 2006

Acerca da geada e de outros mitos

Existem mentiras ou incorrecções que pela via da constante repetição se tornam verdades indiscutíveis. Por exemplo, a queda da geada. Quantos de nós já ouvimos dizer que está a cair geada naquelas noites ou madrugadas em que faz um frio de doer. Na realidade, a geada é o orvalho congelado devido ao arrefecimento que cobre os corpos expostos. Ao contrário da crença popular a geada não cai, forma-se. Assim, nunca ouvimos os senhores meteorologistas ou aquelas meninas que apresentam os boletins meteorológicos, com o mesmo conhecimento de quem fala da actual situação política do Nepal, a dizer que está prevista uma precipitação de geada de não sei quantos milimetros cúbicos não sei aonde.
A queda da geada é uma dessas incorrecções, no entanto inofensiva. Muitas outras existem e são repetidas nas mais diversas situações. Estas sim, poderão não ser assim tão inofensivas.
Não querendo entar em teorias de conspiração, remeto-vos quatro exemplos de mentiras/incorrecções que poderão ser convenientes para a nossa deformação como cidadãos desinformados:

Mito # 1- A eleição do primeiro ministro
Nas últimas campanhas para as eleições legislativas tornou-se um hábito dizer que se elegia o primeiro ministro. Mentira. No nosso país o primeiro ministro é nomeado pelo presidente da república tendo em conta os resultados das eleições legislativas. Por norma, o líder do partido mais votado torna-se primeiro ministro mas existe a possibilidade de tal não acontecer.
Especulemos o seguinte cenário: numas futuras eleições legislativas o PS é penalizado devido às suas medidas "impopulares mas necessárias" pelo eleitorado. Imaginemos que o PS tem uma maioria relativa, o PSD fica em segundo lugar, o CDS-PP em terceiro e os restantes por aí abaixo. O presidente da república convida o Sr. Dr. Fulano Rosa, líder do PS, para primeiro ministro. Fulano Rosa tenta formar um governo de coligação, mas não consegue, porque os segundo e terceiro classificados são coerentes com os seus tempos de oposição, o Bloco de Esquerda vai deixando de estar na moda e vai perdendo eleitores e deputados e o PCP-PEV continua no seu caminho orgulhosamente só e com a permanente certeza que é o único detentor da verdade.
Como resultado, o PS tem um acesso de responsabilidade governativa e desiste de formar governo para evitar uma queda dias depois. Imaginemos que o PSD e o CDS-PP se aliam e formam governo com uma maioria absoluta. Assim, teriamos o Sr. Eng. Sicrano Laranja, líder do PSD, como primeiro ministro sem sequer ter ganho as eleições.
Mito # 2- Portugal é o país com mais feriados
Tem sido um lugar comum dizer que os portugueses gozam de mais dias feriados que quaisquer outros, situação que tem consequências nefastas para a produtividade. Mentira. Portugal tem actualmente 12 feirados oficiais e um que não sendo oficial vai funcuionando como tal: o Carnaval que nunca foi perdoado a Cavaco Silva pelos funcionários públicos. Tomando como fonte o sítio Global Sources verificamos que entre os nossos parceiros comunitários três países têm mais feriados que nós: a Suécia (17), a Áustria (14) e a Dinamarca (14).
Por mim, se temos demasiados feriados deveriamos eliminar todos os feriados religiosos, uma vez que Portugal é um estado laico e que a religião é um assunto que só diz respeito à intimidade de cada um.
Mito # 3- Este ano vamos trabalhar menos devido às pontes
Tem sido dito que devido à quantidade de feriados que este ano caiem à terça ou à quinta feira vamos trabalhar menos uma vez que iremos fazer mais pontes. Mentira. Contando com o Carnaval teremos cinco pontes. No caso da Marinha Grande serão seis, devido ao nosso feriado municipal (Quinta Feira da Ascenção). Ora para a maioria da população fazer ponte significa gastar um dia dos 22 dias úteis que tem direito, os quais correspondem a um ano de trabalho. Se eu faço ponte não estou a roubar um dia à sacro-santa produtividade mas sim a gastar um dia que me pertence.
Mito # 4- Portugal está em primeiro lugar na Europa no que é mau, e em último no que é bom
Fala-se que o nosso país está sempre na cauda da Europa em tudo aquilo que é positivo, e na dianteira naquilo que é negativo. Mentira. Tomando como fonte o sítio CIA-The World Factbook 2005 verificamos que Portugal tem altos e baixos ao nível do que é positivo ou negativo. Existe uma confusão entre o que é a Europa e a União Europeia e é normal referirem-se à Europa como se países exteriores à união não fossem europeus, uns ricos outros nem por isso. Isto só por si é um outro mito, uma vez que o nosso continente não se esgota na Europa dos 25.
Assim sendo, verificamos que Portugal tem uma taxa de mortalidade infantil de 5,05 por cada 1000 nascimentos, menor que a da Espanha (9,63/1000), da Grécia (5,53/1000), da Lituânia (6,89/1000) ou da Albânia (21,52/1000). Uma taxa de alfabetização de 93,3%, superior à da Albânia (86,5%) por exemplo. Uma esperança média de vida de 74,25 anos, superior à da Bielorrussia (68,72 anos) ou da Hungria (72,4 anos). Um rendimento per capita de 18 400 dólares dos Estados Unidos (convém referir que é dos EUA uma vez que o dólar da Guiana não vale grande coisa), superior à República Checa (18 100 USD), à Bósnia Herzegovina (6 800 USD) ou da Croácia (11 600 USD). Obviamente que isto são dados estastísticos e como tal podem ser manipuláveis, é preciso ter atenção a esse pormenor.
Ainda em relação à estatística, Portugal aparecia num nada mau 27º lugar do Indíce de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas em 2003 (fonte Wikipedia) o que nos colocava à frente de diversos países europeus, tais como a República Checa (31º), a Hungria (35º) ou a Ucrânia (78º) entre muitos outros.

5 Comments:

  • At 5:56 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Obrigado por me fazeres sentir melhor. Ainda que menor. Valorizar dados estatísticos está para a natureza das coisas, como "arrear o calhau" no pinhal está para a natureza dos pinheiros. Não aquece nem arrefece.
    A nossa pobre realidade é que não temos opositores coerentes, apesar de arriscar-mos ter pchefes de estado ASSUMIDAMENTE autoritários.
    Os feriados aqui não tem que ser dias santos. Enquanto em países anglófonos todos os feriados são "HOLY days". E trabalhar menos devido às pontes só para os moradores do Pedrogão, quando a ponte sobre o Lis caír de vez.
    Portugal está de cócoras em relação à diplomacia, à economia, ao desenvolvimento, à sociedade, à educação e no fundo a todos os sectores onde constitucionalmente deveríamos estar suportados. O que está em causa, para milhões de portugueses e portuguesas (porque sou politicamente correcto), não é viver. É cada vez mais sobreviver. E isto não há estatística que reflita. Pelo menos até ser tarde de mais.

     
  • At 1:38 da tarde, Blogger Unknown said…

    Ora aí está.

     
  • At 2:12 da tarde, Blogger ZuLu said…

    Só uma correcção nemrod, cagar no pinhal só traz beneficios para o pinhal na medida em que aduba o solo.

     
  • At 1:29 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Isso do CDS-PP ficar em terceiro parece-me um mito tão grande como o da aparição de fátima...No dia em que o Ribeiro e Castro seja louvado por alguma coisa sem ser o facto de ser benfiquista, acho que o mundo acaba (pelo menos).

     
  • At 1:49 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    O maior problema das estatísticas para os portugueses está na fraquíssima estatística que temos de literacia na Matemática:)

     

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