Dos candidatos presidenciais

Consta que Mário Soares passava hoje pela nossa cidade. Soube isso nas notícias de ontem. Também soube que ele não passaria pela "praça central", nome que ontem deram à Praça Stephens. Ele ainda se deve lembrar da recepção que teve há vinte anos na Marinha Grande e já não tem nem idade nem saúde para levar mais cacetada.
Soube também ontem que Cavaco Silva passou pela nossa terra, novamente através dos noticiários. Também evitou o contacto com a população, ele mesmo deve-se lembrar da recepção a Mário Soares e da sua própria, há dez anos. Não levou porrada, mas merecia. Não me vou esquecer do que se passou na minha cidade um ano antes de ele ter sido candidato à presidência. Para quem não se lembra, ou não saiba, foi mandada a Polícia de Intervenção (eufemismo para polícia de choque) para dominar manifestações de trabalhadores que exigiam os seus direitos. O que se viu passou nos noticiários de então, e foi digno de imagens da Palestina. Se já na altura não gostava de Cavaco, desde então passou a ser um meu ódio de estimação. Desculpe lá, professor, mas não lhe perdoo ter visto a minha cidade transformada num campo de batalha, as agressões a pessoas que nada tinham a ver com o assunto, incluindo o padre, pessoas que se encontravam dentro da Câmara Municipal e a jornalistas. Felizmente haviam jornalistas, caso contrário acredito que teria havido um massacre digno da Timisoara de Ceausescu ou do Tiannamen de Deng Xiaoping.
Desculpe lá, professor, mas não acredito em si quando ontem apareceu na televisão a falar em diálogo. Lembro-me dos seus diálogos com os que protestavam na Pente 25 de Abril ou na minha cidade. Você é mais dado a monólogos e nunca se engana e raramente tem dúvidas. Engana-se você.
Ainda está aí, doutor Soares? Não me esqueci de si. Posso-lhe recordar que na minha cidade também houve problemas quendo você esteve na poder. tal como no tempo de Cavaco, também no seu tempo houve por cá repressão e fome.
É triste que nestes tempos de democracia os principais candidatos sejam dois veteranos que nada têm de novo a dar ao país. Assim vai a nossa democracia.