Caga Sentenças

Todo o Português caga a sua sentença. Neste espaço venho deixar a minha poia.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Requiem por Benjamin



Aquele 7 de Setembro foi um dia normal. O mundo seguia atentamente aquele rei Edward VIII que trocou o trono do Império Britânico por uma divorciada americana enquanto os grandes e poderosos arrastavam, com sucesso, o mundo inteiro para a próxima guerra mundial.

Foi um dia absolutamente normal que deveria fazer parte da História como simbolo da estupidez humana e do seu poder de destruição eficaz.

A 7 de Setembro de 1936 morreu em Hobart (Austrália), após doze anos de cativeiro, Benjamin. Ele não foi um político de renome ou um militar condecorado, não foi um escritor premiado nem um filosofo, nem um artista nem um revolucionário, nem sequer daqueles que dão a vida pelo ideal de todos os humanos serem mais livres.

Nesse dia morreu Benjamin, cujo corpo foi ingloriamente lançado numa lixeira. Não entrou para a História, no entanto a sua morte deveria ser considerada equivalente a uma catástrofe. Ele foi o ultimo lobo da Tasmânia, ao qual a ciência da civilização que o exterminou deu o nome de thylacinus cynocephalus. Foi o culminar de um processo destrutivo iniciado a 28 de Abril de 1888 quando o governo da Tasmânia passou a oferecer uma libra por cada exemplar morto. Ora duas libras eram à data um salário razoável. Criadores de ovelhas e caçadores de recompensas levaram à extinção em apenas quarenta e oito anos o produto de milhões de anos de evolução porque acusavam a espécie de lhes atacar os rebanhos. Na verdade eram os cães, trazidos para lá pelos colonizadores, que mais ovelhas matavam.

O ultimo lobo da Tasmânia em estado selvagem tombou morto em Mawbanna em Abril de 1930. Restavam apenas aqueles que viviam em jardins zoológicos, até que Benjamin morreu. O facto de não estar em liberdade é acessório e não essencial. Tinha sido lida a sentença para a sua espécie e estando só jamais se poderia reproduzir. Pelo menos não foi perseguido, abatido e despojado da sua pele que serviria para reclamar a recompensa. Ironicamente nesse mesmo ano o governo australiano proclamou a protecção total à espécie. Tarde demais.

Obviamente não foi a primeira espécie que a Humanidade levou à extinção nem a ultima. Desde a Pré-História que o Homem extermina a vida que o rodeia, seja por imperativos da sua própria sobrevivência, por uma questão de luxo, como dano colateral da destruição total ou parcial de ecossistemas ou mesmo por prazer ou desporto. Talvez nem sequer tenha sido a espécie mais importante que tenhamos extinguido; mas o lobo da Tasmânia, apesar de nos ser tão distante por vezes entra-nos em casa através de um filme a preto e branco que o mostra na sua jaula andando de um lado para o outro.

É hábito a dita civilização considerar o mundo em que vive como estando ao seu dispor ou mesmo como sua propriedade. As extinções sucedem-se a um ritmo cada vez mais acelarado e li algures que nos próximos cem anos terão desaparecido três quartos das espécies que vivem no planeta. Por cada uma que desaparece o mundo fica mais pobre e frágil. Lamentável, sem dúvida, muitos dirão, mas há problemas mais importantes por resolver. Talvez não lhes pareça somente lamentável se pensarem que naquele atol que irá submergir devido ao aquecimento global poderá viver um ser único que possa ter uma qualquer substância que sirva para a cura de uma doença. Ou que aquela floresta que serve de matéria prima para aquela fábrica de celulose situada à beira rio o qual deposita no mar toneladas de nutrientes que irão alimentar os peixes nos poderiam alimentar a nós.

Entretanto as nações começam-se a preocupar com o assunto e lá vão assinando protocolos que irão violar de seguida. Outras nem sequer os assinam por serem restritivos e prejudicarem a sua economia. Essas deveriam ser levadas à barra dos tribunais acusadas de genocídio por negligência.

Espero viver o tempo suficiente para contar a alguém mais novo que existiu a Floresta Amazónica ou de ver a cores e em directo nações inteiras a guerrearem-se, não pelo controlo do petróleo mas sim, pelo controlo da água. Talvez viva o tempo suficiente para ver repetidos os mesmo erros nas primeiras colónias situadas nos planetas mais próximos. E o pior é que talvez em vez do requiem por Benjamin um dia escreva o requiem de todos nós.

3 Comments:

  • At 7:45 da tarde, Blogger Stefan Koski said…

    Bien trabajo. Están haciendo gran escritura.

     
  • At 10:19 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    ...mas nem tudo é mau. Neste momento está a proceder-se a um trabalho cientifico e exigente de trazer de volta o Lobo Da Tasmania, através da clonagem e aproveitamento de ADN. A primeira tentativa ocorreu entre 1999 e 2002 e fracassou, devido á elevada deterioração do ADN provocado pelo etanol. Este ano começou um novo projecto, vamos ver no que dá! Os meus avós lobos falavam-me de uns primos Australianos muito malucos,pode ser que eles voltem...

     
  • At 1:05 da manhã, Blogger webisomem said…

    Um dia esta esupidez vai acabar. Esse vai ser o dia em que o Homem conseguir exterminar-se a ele mesmo...

     

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