Fundamentalismos
Tomás de Torquemada
Jim Jones
Recordo-me de ver em diversas igrejas um panfleto acerca do papel da Inquisição em Portugal, presente de 1536 até ao século XIX. Dizia esse panfleto que por cá a Inquisição tinha morto mil quatrocentas e tal pessoas (não me recordo do número exacto). Depois perguntava o que era isso comparado com as mortandades causadas pelo comunismo e pela Maçonaria. Ainda há algum tempo este panfleto encontrava-se também numa vitrine da igreja da nossa cidade.
Sinceramente parece-me que tal argumento é uma desculpa de mau pagador. Sinceramente parece-me que queriam dizer que os crimes têm um certo nível de perdão se comparados com outros piores.
Se por cá a Inquisição foi assim tão branda, em Espanha a realidade foi bem diferente. Fundada em 1478 em Castela foi-se estendendo por toda a Espanha à medida que o país era unificado pelos Reis Católicos. Começou por perseguir os Judeus, conveniente pois esta minoria até tinha muitos bens e a Inquisição confiscava-lhes os bens. Com a expulsão dos Judeus de Espanha era necessária uma nova fonte de rendimento para a instituição. Perseguiram-se depois os falsos conversos, antigos judeus que tinham abraçado a fé em Cristo mas de que se desconfiava que era apenas uma fachada. A partir de 1520, agora que os falsos conversos começavam a escassear eram necessários novos inimigos. Estes surgiram sob a forma de outros herejes: protestantes, bigamos, bruxas, blasfemos, etc.
Como principal inquisidor reconhece-se Tomás de Torquemada (1420-1498) que a liderou durante quinze anos. Durante o seu reinado de terror morreram muitos milhares de pessoas.
Mas o que é isto comparado com dois milhões de mortos durante o regime de Pol Pot, no Camboja, e muitos mais milhões graças a senhores tão iluminados como Stalin ou Mao Zedong. Quanto a mim a Inquisição só não matou mais porque não pôde. Imaginem se tivesse os meios destes senhores acima referidos. Era uma festa.
Como não devemos julgar o passado aos olhos dos ideais do presente falo-vos agora doutro senhor mais recente. Faz hoje precisamente vinte e sete anos que 911 pessoas se suicidaram em conjunto em Jonestown, Guiana. Foi talvez o maior suicídio coléctivo da história. Liderados pelo reverendo Jim Jones (1931-1978) levou toda a sua comunidade do Templo do Povo, instalada há um ano na Guiana, a suicidar-se com veneno. Jones matou-se com um tiro na cabeça.
Numa época em que tanto se fala de fundamentalismo convém recordar que também relembrar que o fundamentalismo cristão também existe e pode ser tão perigoso como qualquer outro, seja ele político ou religioso. E ele anda por aí, sob a forma de algumas das chamadas seitas ou até sob formas respeitáveis, como currículos escolares nalguns estados dos Estados Unidos em que a evolução das espécies de Darwin se encontra banida.
Convém relembrar que hoje mais que nunca, exitem meios de fazer inveja a qualquer tirania do passado. Convém relembrar que se durante todos estes séculos evoluimos tecnologicamente pouco se nota ao nível da tolerância e da civilização em geral. Na hora do aperto poderemos descer do nosso pedestal euro-américo-cêntrico para sermos tão bárbaros quanto sempre fomos.
Jim Jones
Numa época em que tanto se fala no fundamentalismo islâmico convém não esquecer que também os cristãos tiveram, e têm, devaneios ao melhor nível do que de pior os Talibans poderiam fazer.
Recordo-me de ver em diversas igrejas um panfleto acerca do papel da Inquisição em Portugal, presente de 1536 até ao século XIX. Dizia esse panfleto que por cá a Inquisição tinha morto mil quatrocentas e tal pessoas (não me recordo do número exacto). Depois perguntava o que era isso comparado com as mortandades causadas pelo comunismo e pela Maçonaria. Ainda há algum tempo este panfleto encontrava-se também numa vitrine da igreja da nossa cidade.
Sinceramente parece-me que tal argumento é uma desculpa de mau pagador. Sinceramente parece-me que queriam dizer que os crimes têm um certo nível de perdão se comparados com outros piores.
Se por cá a Inquisição foi assim tão branda, em Espanha a realidade foi bem diferente. Fundada em 1478 em Castela foi-se estendendo por toda a Espanha à medida que o país era unificado pelos Reis Católicos. Começou por perseguir os Judeus, conveniente pois esta minoria até tinha muitos bens e a Inquisição confiscava-lhes os bens. Com a expulsão dos Judeus de Espanha era necessária uma nova fonte de rendimento para a instituição. Perseguiram-se depois os falsos conversos, antigos judeus que tinham abraçado a fé em Cristo mas de que se desconfiava que era apenas uma fachada. A partir de 1520, agora que os falsos conversos começavam a escassear eram necessários novos inimigos. Estes surgiram sob a forma de outros herejes: protestantes, bigamos, bruxas, blasfemos, etc.
Como principal inquisidor reconhece-se Tomás de Torquemada (1420-1498) que a liderou durante quinze anos. Durante o seu reinado de terror morreram muitos milhares de pessoas.
Mas o que é isto comparado com dois milhões de mortos durante o regime de Pol Pot, no Camboja, e muitos mais milhões graças a senhores tão iluminados como Stalin ou Mao Zedong. Quanto a mim a Inquisição só não matou mais porque não pôde. Imaginem se tivesse os meios destes senhores acima referidos. Era uma festa.
Como não devemos julgar o passado aos olhos dos ideais do presente falo-vos agora doutro senhor mais recente. Faz hoje precisamente vinte e sete anos que 911 pessoas se suicidaram em conjunto em Jonestown, Guiana. Foi talvez o maior suicídio coléctivo da história. Liderados pelo reverendo Jim Jones (1931-1978) levou toda a sua comunidade do Templo do Povo, instalada há um ano na Guiana, a suicidar-se com veneno. Jones matou-se com um tiro na cabeça.
Numa época em que tanto se fala de fundamentalismo convém recordar que também relembrar que o fundamentalismo cristão também existe e pode ser tão perigoso como qualquer outro, seja ele político ou religioso. E ele anda por aí, sob a forma de algumas das chamadas seitas ou até sob formas respeitáveis, como currículos escolares nalguns estados dos Estados Unidos em que a evolução das espécies de Darwin se encontra banida.
Convém relembrar que hoje mais que nunca, exitem meios de fazer inveja a qualquer tirania do passado. Convém relembrar que se durante todos estes séculos evoluimos tecnologicamente pouco se nota ao nível da tolerância e da civilização em geral. Na hora do aperto poderemos descer do nosso pedestal euro-américo-cêntrico para sermos tão bárbaros quanto sempre fomos.
1 Comments:
At 8:56 da tarde, Anónimo said…
Ah, isso é que eram bons tempos!
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