Sem a eterna saudade
Se hoje, 22 de Outubro, fosse viva faria 60 anos. Seria signo Balança. Viveu na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, mas tinha casas espalhadas um pouco por todo o país: em Caxias, em Peniche, no Aljube e até uma casa de férias no Tarrafal, Cabo Verde. Apesar de reservada, não dispensava uma boa visita às pessoas mesmo que fosse a meio da noite. Levava-as a passear para dois dedos de conversa e expor pontos de vista. Ganhava sempre, os seus argumentos tinham sempre muita força. Eram argumentos de força.
Profissão: funcionária pública. Era muito zelosa nos seus deveres e levava-os sempre até ao fim. Como tal era uma das trabalhadoras predilectas dos seus superiores. Uma funcionária exemplar.
Se hoje fosse viva estaria certamente a manifestar-se contra as medidas que o governo quer impor em relação às reformas dos funcionários públicos. Afinal a sua profissão obrigaria-a a, com 60 anos, levantar-se de madrugada, estar de cabeça fresca, ser deslocalizada sabe-se lá para onde (para onde o dever a chamasse) e ainda ter forças para dar um belo correctivo.
Muitos das gerações dos meus pais e avós conheceram-na pessoalmente, outros trabalharam com ela e garantidamente conheciam-na nem que fosse só de nome.
Chamava-se PIDE.
Ouvi à uns dias que se pretende transformar a antiga sede da PIDE num condomínio de moradias de luxo. Fiquei pasmado. Fiquei assim por, no meu país, se pretender passar uma esfregadela no seu passado e esquecê-lo. É fácil fechar as feridas se nos esquecermos que elas existem. No entanto, elas estarão lá, à espera que alguém se lembre de as abrir.
Lembra-me as Mães da Praça de Maio, em Buenos Aires, Argentina, que dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano e por aí adiante, reclamam saber onde param os seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar de Videla e Cia. Lda. Na Argentina passou-se a esfregona no seu passado, remendou-se a ferida com o esquecimento, mas a ferida tanto lá como cá estará sempre aberta enquanto houver alguém para a recordar.
Não nos deixemos esquecer.
Profissão: funcionária pública. Era muito zelosa nos seus deveres e levava-os sempre até ao fim. Como tal era uma das trabalhadoras predilectas dos seus superiores. Uma funcionária exemplar.
Se hoje fosse viva estaria certamente a manifestar-se contra as medidas que o governo quer impor em relação às reformas dos funcionários públicos. Afinal a sua profissão obrigaria-a a, com 60 anos, levantar-se de madrugada, estar de cabeça fresca, ser deslocalizada sabe-se lá para onde (para onde o dever a chamasse) e ainda ter forças para dar um belo correctivo.
Muitos das gerações dos meus pais e avós conheceram-na pessoalmente, outros trabalharam com ela e garantidamente conheciam-na nem que fosse só de nome.
Chamava-se PIDE.
Ouvi à uns dias que se pretende transformar a antiga sede da PIDE num condomínio de moradias de luxo. Fiquei pasmado. Fiquei assim por, no meu país, se pretender passar uma esfregadela no seu passado e esquecê-lo. É fácil fechar as feridas se nos esquecermos que elas existem. No entanto, elas estarão lá, à espera que alguém se lembre de as abrir.
Lembra-me as Mães da Praça de Maio, em Buenos Aires, Argentina, que dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano e por aí adiante, reclamam saber onde param os seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar de Videla e Cia. Lda. Na Argentina passou-se a esfregona no seu passado, remendou-se a ferida com o esquecimento, mas a ferida tanto lá como cá estará sempre aberta enquanto houver alguém para a recordar.
Não nos deixemos esquecer.
2 Comments:
At 3:13 da manhã, Anónimo said…
Que é que querias?
Uma cratera de 20 metros a dizer: Aqui jaz? à que a seguir em frente e passar a ferro o passado! Puta que pariu os fascistas! Siga o futuro!
Porque senão os cabroes dos skins ainda faziam a merda do buraco um monumento!
At 1:40 da tarde, Cão com Pulgas said…
Apoio a irmã Lúcia. Por muito que o passado nos envergonhe a todos, há que o manter presente para não repetirmos os mesmos erros no futuro. Por falar nisso viram a apresentação da campanha do Cavaco, aquele homenzinho austero que veio lá das berças para pôr a economia do país em ordem? Eu vi. E já estou a preparar o meu 25 de Abrilzinho.
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