Festa e utopia

Rubras bandeiras percorrendo o vento,
castelos de tubagens desenhando a paisagem,
gente dos campos, das fábricas, dos escritórios,
de todos os pontos cardeais
enchendo as ruas e os restaurantes
povoando o espaço com o seu canto e o seu riso,
jovens dançando as flautas e os bombos
numa celebração pagã de alegria
com faces de homens mortos ao peito
(santos da mitologia de um credo sem deuses)
e fumando sonhos impudemente
frente a quem quer que seja.
Há uma imensa felicidade no ar
de quem pela força dos seus braços
ergue o céu sobre a terra
entre uma cantiga e uma bebida.
Amanhã um novo dia amanhece
mas não o Novo Dia
em que todas as pessoas são iguais.
De volta à realidade do mundo exterior
de volta aos campos, às fábricas, aos escritórios,
à cama, à mesa, ao prato habitual
engolindo com o gosto amargo nos lábios
de quem sonha e vê que o mundo
não pula nem avança.