Silly season (40 graus à sombra)

Já cheira a Verão. O mercúrio dos termometros avança inexoravelmente de uma forma ascendente. Aos fins de semana as praias enchem-se de gente deitada ao sol preparada para os primeiros vermelhões. Já se pensa no aluguer daquele cubículo no apartotel no Algarve ou na compra daquela tenda familiar onde todos caberão. Todo país irá cair em avalanche motorizada para o sul entre paragens nas estações de serviço e destroços de acidentes. Depois ele até vai dar mais ajuda do que é hábito mas cuidar dos miúdos, fazer o comer ou lavar a loiça irá permanecer um feudo feminino.
Entretanto hão-de começar a chegar os emigrantes nos seus automóveis de gama média alta e os turistas transportados por carros banais despejados através de Vilar Formoso. E os casamentos nas igrejas de aldeia ("Quando chega o Verão, que linda é a noiva...") com a panóplia de familiares e convidados vestidos a rigor sofrendo do calor do sol e da bebida. E as estradas cheias de automóveis tunning de matrícula suíça, outros com águias no capot e uns quantos que atravessaram o oceano para terras piscatórias como Peniche ou Nazaré.
Depois os noticiários hão-de sofrer com a falta de assunto, uma vez que toda gente vai de férias incluindo os políticos, os futebolistas e os juizes dos casos mais mediáticos. Se tudo correr bem alguma catástrofe há-de acontecer e assim haverá tema para o telejornal. Talvez os habituais incendios florestais com vítimas a condizer e a fatídica entrevista ao primo do tio da avó do pai do filho do enteado que perderam uma casa com barracão e gado explorada para além do que é jornalismo. Isto num directo ao vivo e a cores a ocupar metade do noticiário. A outra metade será um conjunto de entrevistas a veraneantes em top less a falarem acerca dos quarenta graus à sombra e das ondas do mar.
Já cheira a Verão e as minhas férias mais parecem uma miragem.