Já Podíamos Parar (com as barbáries)
"Este foi, no meu entender, o caminho mais correcto a seguir para criar uma política cultural no concelho"
pois posso discordar, joão?
criaram-se arquivos mortos
os conservadores teem disso (e aqui é bem claro que os socialistas não aceitam tal palavra)
fazer exactamente coisas para o passado
mas dizem que se projecta o futuro através do passado
e eu acho que ele estão é passados
que o futuro é no futuro e não atrás, é à frente.
mas isto é o que eu acho. eu, que sou baixo, que tenho a mania de não apertar a mão a estranhos e que não gosto muito de sociabilizar (isto não tem nada a ver com socializar...)
enfim, estamos explicados que a forma de promover a cultura é museus. é isso mesmo. todas estas bandas, estes fotógrafos, estes escritores, estes cineastas, toda esta gentinha que anda aqui a passar fome hoje bem se pode alegrar em que um dia vai ter as suas peças em museu. eu já deixei escrito que isto ia tudo desaparecer comigo. nada de inéditos. e deito fogo à casa só de pensar que esta espelunca ainda é transformada em museu. livra!
pois posso discordar, joão?
criaram-se arquivos mortos
os conservadores teem disso (e aqui é bem claro que os socialistas não aceitam tal palavra)
fazer exactamente coisas para o passado
mas dizem que se projecta o futuro através do passado
e eu acho que ele estão é passados
que o futuro é no futuro e não atrás, é à frente.
mas isto é o que eu acho. eu, que sou baixo, que tenho a mania de não apertar a mão a estranhos e que não gosto muito de sociabilizar (isto não tem nada a ver com socializar...)
enfim, estamos explicados que a forma de promover a cultura é museus. é isso mesmo. todas estas bandas, estes fotógrafos, estes escritores, estes cineastas, toda esta gentinha que anda aqui a passar fome hoje bem se pode alegrar em que um dia vai ter as suas peças em museu. eu já deixei escrito que isto ia tudo desaparecer comigo. nada de inéditos. e deito fogo à casa só de pensar que esta espelunca ainda é transformada em museu. livra!
11 Comments:
At 12:03 da manhã, Praça Stephens said…
caro poisbem
claro que pode discordar. v coloca questões interessantes na segunda parte do post que são justamente as questões que me ficaram por tratar, a saber, a questão da formação/criação cultural e da formação de públicos, espero fazê-lo em breve.
Quanto à questão dos arquivos não posso discordar mais, na realidade, os arquivos são a nossa memória e eu não acredito que nenhum povo, nenhuma comunidade exista sem memória. A titulo de exemplo, a recolha que fizemos de fotografias antigas da Marinha se não o tivessemos feito tinham ido todas parar ao lixo, as pessoas desfazem-se rapidamente de coisas que não conhecem, hoje temos fotos locais (marinha, s. pedro e vieira) desde 1895, acho isto de um valor cultural fundamental.
At 12:40 da manhã, Unknown said…
Ia ecrever um post, mas como já abriram o tema, faço apenas um comentário.
O nosso vereador começa o seu texto com a sua opinião sobre a politica cultural, que, na sua opinião, deve ser baseada na construção das chamadas "Pedras vivas", museus, bibliotecas, etc.
Reconheço e aplaudo a criação de infra-estruturas no concelho, é verdade que há 10 anos atrás não tinhamos nada disto. Chama-se evolução. Parece-me natural. Alarmante seria se não tivessemos nada.
Agora, continuo a achar que a cultura que faz falta ao concelho neste momento é uma cultura activa, de organização de eventos, já que as tais "pedras vivas" (infra-estruturas) já estão instaladas.
Tudo bem que a Câmara criou museus, mas diga-me sr. JPP: Eu que vivo aqui 365 dias por ano, acha que quero visitar o mesmo museu todos os fins de semana? Ou devo eu andar a saltitar do Museu do vidro para a casa Afonso Lopes Vieira e depois ir ao Museu Joaquim Correia pela 56ª vez? Acredito que olhe para estas infra-estruturas como grandes troféus e tiro-lhe o chapéu pela responsabilidade no assunto, mas estes sitios servem principalmente para quem nos visita e não tanto para os moradores. Como se diz na giria, é para Inglês ver.
Então e nós? Não merecemos um teatro, um concerto ou uma mostra de filmes e uma feira do livro? Coisas que podiam ser promovidas por 1/8 do dinheiro investido nuns "The Gift", mesmo que eles estivessem em promoção!
Depois penso que Vieira de Leiria tem um Cine-Teatro com mostras de filmes (no verão) e nós , maioria do concelho, temos o Teatro Stephens a passar filmes fora do prazo de validade, num sitio em ruinas. Será que os Vieirenses merecem mais que nós?
Tinhamos o Sport Operário Marinhense que foi "vendido" à pop-chunga.
Parece que nos querem a dormir, preparadinhos para trabalhar e nada mais.
Precisamos de mais, e merecemos mais. Não queremos viver num dormitório de uma Zona Industrial.
Ovirus era uma grande ideia, que não devia ser desperdiçada. Foram 2 meses maravilhosos :)
P.S.-O DVD do Remarinha já anda à solta e recomenda-se.
At 1:10 da manhã, Praça Stephens said…
caro ricardo
voces assim dão cabo de mim, por este andar não chego inteiro às eleições :)
Eu tencionava falar dessas questões num post mas assim está difícil, com posts continuados e comentários. Assim de cor lembro-me que nós temos por ano o seguinte: o festival de jazz, o festival de teatro, o festival das marionetas, o ciclo de cinema português no verão, o ciclo de cinema temático no 25 de abril, o festival das quatro cidades que privilegia o contemporâneo português em julho, cursos de desenho, a semana da educação e da juventude e depois ainda temos os apoios às iniciativas de instituições locais (operário, bip adca, etc), você pode sempre dizer que não chega é preciso mais, de acordo, é preciso saber é se há os meios.
segunda nota: quanto aos gift, se há coisa que assumo como ponto de honra é não escolher grupos de acordo com a minha preferencia, nunca o fiz nem farei. os grupos são escolhidos pelas instituições com quem nós fazemos parcerias, neste caso foram os alunos e professores que organizaram a semana da educação que escolheram.
terceira nota: quanto ao ovirus, desde inicio que saudei e me entusiasmei com a ideia, felicitando os seus autores e, se dentro das limitações orçamentais óbvias, não foram dados logo alguns apoios (até pedi à adca para lá fazer um concerto), foi porque eles não foram solicitados como tinha ficado combinado. mas continuo a pensar que é um projecto muito bem vindo e que não vai morrer
At 3:03 da manhã, poisbem said…
poisbem,
é lógico que comecei por ser radical ao manifestar tamanho desinteresse no património museológico. a verdade é que tem o seu devido valor e se o fiz foi para dar algum calor mais à conversa, por um lado, e por outro, porque na verdade, o ostracismo devotado às artes vivas e artistas debutantes é de facto, salvo raras excepções e salvo raras cunhas, nulo.
esta é uma mentalidade dificil de mudar, nesta sociedade do espectáculo (ver guy debord) que prefere gift a 8 rockin shoes (e aqui a câmara tem uma voz soberana, ainda que o delegue noutros). é fácil continuar a venerar quem está no poleiro e inclusivé continuar a dar-lhe alpista, mas é bom de ver que os novos rebentos, se não alimentados, perecerão com muito mais rapidez com que os outros tendem a tombar.
quanto a'ovírus, parece-me que a atitude melhor que poderia ter sido tomada por parte da câmara à falta de apoios (bem sei que o tempo está de apertanços - financeiros e não só) seria a informação. a informação não tem preço e é exactamente a função de informar e de aconselhar (não propagandisticamente) que os órgãos de poder local deveriam assumir. informar os munícipes, tenham eles estabelecimentos comerciais, ou sejam meros espectadores. traduzindo: deveria ter sido dado aconselhamento por parte de quem sabe de temas burocratas que a nós nos eram estranhos. esse seria um exemplo real de poder local, era informar e informação é poder.
"...você pode sempre dizer que não chega é preciso mais, de acordo, é preciso saber é se há os meios..."
mas isto de não se fazerem mais coisas por falta de dinheiro é ou pode ser apenas uma falsa questão.
quer videos sem dinheiro? teatro sem cachets? performances, literatura? eu dou-lhe isso. eu dou isso à marinha. foi isso que fiz n'ovírus com os meus colegas, quando apenas pedimos 2€ por entrada para apenas minimizar os estragos. mas eu aqui, predisponho-me a organizar uma sessão de cinema mensal, na marinha, com titulos que nunca estrearam sequer em portugal. exposições de fotografia idem. performance, dança, teatro, idem. depois não podem dizer que é por falta de dinheiro. se não é por falta de vontade, isto tem de ser feito. está o convite feito.
algumas questões (mais):
que programa incentiva a criação de novos artistas e associações na região?
(o dinheiro vindo do estado seria justificado se assim o quisessem, indicando exactamente isso, almada é um bom exemplo.)
que publicações há capazes de informar as pessoas de iniciativas culturais e viabilidades profissionais de carreiras?
porque é que se fizeram rodovias e não se incentiva o uso de bicicletas?
tudo isto é cultural e social ao mesmo tempo. não podemos fugir desta responsabilidade enquanto individuais, mas seguramente que como grupo temos de ser capazes de resolver estas questões.
deixo um excerto de alexandre o'neill, que tinha as mesmas dioptrias que eu:
"a arte é desregra permanente. uma fórmula na mão só nos garante que seremos capazes de nos repetir ad infinitum para os basbaques, a começar pelo basbaque que há em nós. uma fórmula não abre caminhos, fecha caminhos. deixem que cada um dos vossos momentos felizes não se repita mais.
à parte isso, filosofem como quiserem e descubram, a cada milagre, que não sabem nada, mesmo nada, e que o melhor ainda é reapartir sempre do zero" in a capital, 18 de novembro de 1974
peço desculpa pelo tamanho da carta
e peço desculpa por usar este blog de forma tão abusiva, mas penso que estes comentários servem exactamente para confrontarmos estas ideias. desde já aplaudo a capacidade de diálogo que tem tido.
atenciosa mente
sal.
At 10:13 da manhã, Praça Stephens said…
perfeitamente de acordo, tem-se feito alguma divulgação de novos artistas locais (pintura com marinela fazendeiro, concursos de fotografias, bandas locais organizado pelo carlos martins, etc, tudo o que tem sido pedido tem sido feito) mas realmente pode-se ir mais além e melhorar nessa matéria, não tenho a pretensão de saber tudo e também não tenho nenhum problema em reconhecer as falhas, é por isso que valem os blogues :)
At 11:50 da manhã, Anónimo said…
Mas de que é que vocês estão a falar? Se se tratasse de um concurso de erudição, tinhamos aqui o primeiro e segundo lugares do pódio. Mas não.
A maioria dos marinhenses, como os portugueses, têm acesso a 80% menos cultura que vocês. Não sabem quem são Lars von Triers, Bertold Brecht, Liechenstein ou Stockhausen como aqui os cavalheiros. Da arte, da literatura, da cultura em geral são aprendizes e convém não dar o passo maior que a perna. É que a cultura pode ser uma coisa muito arrogante.
Não avaliem o todo pela minoria que frequentava o Ovirus. Os mais letrados têm a tendência para ver o povão como algo desprezível que só gosta de pimba e isso está errado, é a pior atitude. Comecem por baixo, não ofendam as pessoas com as vossas propostas, não as afastem nem as façam sentir-se ainda mais ignorantes. Sejam realistas, adequem-nas aos públicos certos.
A criação de públicos exige trabalho e não deve ser da competência de um ou dois gurus, mas de todos, em todas as correntes criativas, mais ou menos populares, mais ou menos comerciais.
A cutura não é só de alguns.
Sejam humildes.
At 8:16 da tarde, Anónimo said…
Dou razão a todos mas convenhamos: é no auditório do Operário que se promove um festival de Jazz (por ex.) para uma cidade de 30.000 habitantes? Então se o auditório nem tem capacidade para receber os pais dos alunos que frequentam as escolas do Operário na festa de final do ano!!!
Não me digam que um concelho que produz tanta riqueza e com tanta indústria não consegue arranjar solução para a construção de um cinema e um auditório convenientes? Temos tão bons empreiteiros que também podem ajudar! Que hão-de dizer as terras do interior! Se calhar valia a pena perguntar-lhes como fazem: por exemplo Alvaiázere que tem um cinema/teatro remodelado que se não são as cadeiras do teatro José Lúcio que lá estão são muito parecidas!
Continuo a dizer: quando nasceu o centro comercial Lumar falava-se num cinema na cave, afinal foi falso alarme; agora nasceu o Atrium e ninguém teve a ousadia de exigir no projecto um cinema ao menos? Leiria está quase com alguns 50 cinemas (exagero!) como é que será que eles fazem? Se calhar podiamos ser um bocadinho mais humildes e perguntar como é que se faz quando o não sabemos! E aproveitar as sinergias das geminações?
Eu acho que com os espaços criados seria mais fácil fazer passar por cá as digressões nacionais de teatro, dança, música,...
É que nós parece que não saímos da máxima: Fado, Fátima e Futebol para contentar o Zé Povinho!
Desculpem bater na mesma tecla mas se desde o 25 de Abril de 1974 ainda não se conseguiram resolver estes assuntos é caso para perguntar, e perdoem-me a ousadia: o que é que os senhores que têm passado pela Câmara têm estado a fazer todos estes anos? Qual a razão dos projectos não passarem disso mesmo?
Além do mais há outras coisas mais simples e que não implicam grandes custos e promovem a nossa cidade: convidem a Antena3 para fazer uma Quinta dos Portugueses na Marinha Grande!!!!
At 2:25 da manhã, poisbem said…
caro Vendo Fiat Ritmo batido :
"A maioria dos marinhenses, como os portugueses, têm acesso a 80% menos cultura que vocês. "
isso seria muito discutivel, depende do que considerarmos cultura.
mas digo-te,todos teem acesso a ela, seja por internet, seja por outra forma. antes havia internet de borla na rua do cego. creio que não há já lá, mas agora há na biblioteca.
"A cutura não é só de alguns.
Sejam humildes."
am i not?
At 11:56 da manhã, Anónimo said…
Caro poisbem,
Não leves as coisas a peito. Não há nada de pessoal no meu comentário. Quando me refiro aos 80% de cultura, refiro-me a esta ideia que temos de cultura. Somos urbanos, vivemos em cidades mais ou menos cosmopolitas e temos acesso a muitas coisas (com mais ou menos relevância) que a maioria das pessoas nem sonha que existem. Não há qualquer juízo de valor nesta minha apreciação, apenas a constatação que a cultura, assim como o dinheiro, não falta. Está é mal distribuída.
Tenho toda a certeza de que o contributo de pessoas esclarecidas como tu, poderia trazer muitos benefícios para a Marinha (o Ovirus foi disso um exemplo). Quando alerto para o perigo da arrogância quando se fala de cultura, também me incluo. É preciso adequar, se quiseres dosear, o tipo de cultura ao perfil dos públicos. Os nossos públicos talvez sejam um pouco mais restritos que a generalidade. Isso não faz de nós pessoas especiais, apenas felizardas. Não duvido da tua humildade, isso seria uma ofensa. Apenas tentei por um dedo na nossa consciência colectiva, nunca é demais reflectir...
At 7:27 da tarde, carlos said…
Fiat,
Com essa atitude parece-me que se menospreza o público.
O que quero dar às pessoas é o que me parece interessante/importante dar. Não faço serviço público. Se deixar de funcionar, deixo de fazer. Concerteza que haverá outras perspectivas com outras prioridades e ainda bem, eu mostro o que considero válido, vale o que vale.
A humildade não é para aqui chamada porque isto tudo de que falamos não tem a ver com egos, tem a ver com arte.
peace
At 10:29 da tarde, Anónimo said…
caro Carlitos
Não se pode agradar a todos e não se pode criar para todos. O que deve existir são condições para cada um poder criar o seu público e para o seu público sem restrições.
Há públicos que nunca nos darão atenção por muito que tentemos, devemos reconhecer isso. É para os outros, aqueles que se reconhecem na nossa criatividade que nos devemos aplicar.
Um dia, levei um amigo a jantar com uma amiga minha que trabalhava numa dessas rádios locais. Para início de conversa, este meu amigo perguntou: Trabalhas na rádio XPTO, não é? Porque é que vocês passam sempre aquela merda de música? Aquilo é para parolos! Se fosse eu, fazia uma programação mais tipo Voxx, tás a ver?
A minha amiga estava a ver que tinha saído com um convencido, que além de a estar a ofender, presumindo que a vontade dela era passar música parola, estava também a revelar um desconhecimento total do público a quem se dirigia a dita rádio (e que era o seu ganha-pão).
Escusado será dizer que a dita rádio continua a emitir música parola, a Voxx fechou por falta de dinheiro e ele não comeu a minha amiga.
Quando eu falo de humildade é a isto que me refiro. Saber reconhecer que se faz parte de uma minoria, interessante, talentosa, criativa, que domina uma arte e tem muita vontade de mudar as coisas, mas que não deixa de ser uma minoria.
Apenas mais uma das muitas minorias e não uma imensa minoria, que isso não existe.
Eu gosto de minorias.
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