Suicídio cultural
Ontem foi mais uma noite das bruxas. No mundo anglo-saxónico é celebrado com as criancinhas mascaradas a irem de porta em porta para chantagear os incautos moradores: "doçura ou travessura". Por cá o Dia das Bruxas chegou através das aulas de inglês, nas escolas. Por cá até já lhe chamam de Halloween, seu nome original mas que não sabemos o que quer dizer. Por cá muitas outras tradições estrangeiras chegaram para ficar: o Dia de S. Valentim, o Pai Natal, etc. A mando do comércio e do consumismo.
Eu ainda sou do tempo em que pouco se notava que o Pai Natal dava as prendas às crianças na noite de Natal. Em minha casa, assim como na maioria das casas, era um tal de Menino Jesus que tinha tal função. Depois veio o Pai Natal, com as multinacionais dos regrigerantes ou da indústria dos brinquedos, e lançou o Menino Jesus no desemprego. Além disso o trabalho infantil está proíbido.
Ainda sou do tempo em que os portugueses falavam português. Agora falam uma misturada de português e de inglês de pronúncia talvez sul africana ou nigeriana. Por tudo e por nada, com ou sem necessidade, dentro ou fora de contexto invadem a sua própria língua com palavras que muitas vezes desconhecem o seu significado. O português fica colorido com o azul-branco-vermelho das bandeiras dos Estados Unidos ou do Reino Unido. Por vezes utilizam-se palavras roubadas a Sua Majestade ou ao Uncle Sam por não existirem na nossa língua correspondentes para transcreverem certas ideias. Outras vezes não dá para perceber o que essas palavras estão a fazer nas frases que utilizamos para comunicar. Sabe, é que é bem falar inglês. Mesmo que não se saiba falar tal língua.
Vejo os senhores ministros, os senhores jornalistas e líderes de opinião a insistirem no inglês e o portuguesito, que muitas vezes mal sabe falar a sua própria língua, repete essas mesmas expressões sem sequer saber o que relmente significam. O que quer dizer outlet? O que quer dizer know how? O que quer dizer in ou out? O que querem dizer as pessoas quando me fazem lembrar aqueles emigrantes que aprendem a falar a língua do país de acolhimento, mas mal, e passam também a falar mal a sua própria língua?
Chegou-se mesmo ao ponto da publicaidade estar apinhada de frases em inglês sem ao menos haver uma tradução em letras pequeninas num canto qualquer (ao contrário do que se passa em França). Canta-se em inglês porque soa bem, riscam-se as paredes em inglês porque...Porquê?
Apesar de já termos um prémio Nobel da literatura, o português é uma língua em vias de extinção. Pelo menos no país onde surgiu. E nesse país, quando se quiz incutir o patriotismo nas escolas todas elas rebeberam uma caixinha com o hino nacional, a bandeira verde-rubra e alguns outros apetrechos. Os senhores que têm mando chamaram-lhe Kit Patriótico!
O português vai sofrer o que a nossa segunda língua nacional e oficial, o mirandês, sofreu. Banida das escolas por um Estado Novo contrário a segundas opções que pusessem em causa o conceito de Estado-Nação, banida pelos próprios falantes por ser considerada uma língua de gentes rudes, sem cultura e sem classe.
Um povo que perde a sua própria língua é um povo que caminha para o seu suicídio cultural. Um povo que alegremente deixa-se invadir por outra língua é um povo em processo de colonização cultural. É o nosso povo.
Eu ainda sou do tempo em que pouco se notava que o Pai Natal dava as prendas às crianças na noite de Natal. Em minha casa, assim como na maioria das casas, era um tal de Menino Jesus que tinha tal função. Depois veio o Pai Natal, com as multinacionais dos regrigerantes ou da indústria dos brinquedos, e lançou o Menino Jesus no desemprego. Além disso o trabalho infantil está proíbido.
Ainda sou do tempo em que os portugueses falavam português. Agora falam uma misturada de português e de inglês de pronúncia talvez sul africana ou nigeriana. Por tudo e por nada, com ou sem necessidade, dentro ou fora de contexto invadem a sua própria língua com palavras que muitas vezes desconhecem o seu significado. O português fica colorido com o azul-branco-vermelho das bandeiras dos Estados Unidos ou do Reino Unido. Por vezes utilizam-se palavras roubadas a Sua Majestade ou ao Uncle Sam por não existirem na nossa língua correspondentes para transcreverem certas ideias. Outras vezes não dá para perceber o que essas palavras estão a fazer nas frases que utilizamos para comunicar. Sabe, é que é bem falar inglês. Mesmo que não se saiba falar tal língua.
Vejo os senhores ministros, os senhores jornalistas e líderes de opinião a insistirem no inglês e o portuguesito, que muitas vezes mal sabe falar a sua própria língua, repete essas mesmas expressões sem sequer saber o que relmente significam. O que quer dizer outlet? O que quer dizer know how? O que quer dizer in ou out? O que querem dizer as pessoas quando me fazem lembrar aqueles emigrantes que aprendem a falar a língua do país de acolhimento, mas mal, e passam também a falar mal a sua própria língua?
Chegou-se mesmo ao ponto da publicaidade estar apinhada de frases em inglês sem ao menos haver uma tradução em letras pequeninas num canto qualquer (ao contrário do que se passa em França). Canta-se em inglês porque soa bem, riscam-se as paredes em inglês porque...Porquê?
Apesar de já termos um prémio Nobel da literatura, o português é uma língua em vias de extinção. Pelo menos no país onde surgiu. E nesse país, quando se quiz incutir o patriotismo nas escolas todas elas rebeberam uma caixinha com o hino nacional, a bandeira verde-rubra e alguns outros apetrechos. Os senhores que têm mando chamaram-lhe Kit Patriótico!
O português vai sofrer o que a nossa segunda língua nacional e oficial, o mirandês, sofreu. Banida das escolas por um Estado Novo contrário a segundas opções que pusessem em causa o conceito de Estado-Nação, banida pelos próprios falantes por ser considerada uma língua de gentes rudes, sem cultura e sem classe.
Um povo que perde a sua própria língua é um povo que caminha para o seu suicídio cultural. Um povo que alegremente deixa-se invadir por outra língua é um povo em processo de colonização cultural. É o nosso povo.
12 Comments:
At 12:37 da tarde,
carlos said…
I agree with every word on your post.
At 1:29 da tarde,
carlos said…
credo, que nostalgia que vai práki!
At 7:59 da tarde,
Unknown said…
Sinceramente, também fico meio incomodado com a importação da noite das bruxas. Principalmente porque quando chega a Fevereiro e pergunto a alguém se se querem mascarar e me respondem que já não têm espirito para o carnaval.
Depois aparecem vestidas de bruxa no Halloween... OK, sim senhor.
Quanto à adaptação dos anglicismos à nossa linguagem corrente, acho mais normal, porque há expressões ou palavras em inglês que num som, definem o que em português demoraria 3 ou 4 palavras. Há linguagem técnica que nunca iremos usar em português, ou que nem sequer há tradução. Exemplo:
Compramos uma aparelhagem de som de alta fidelidade. Um hi-fi (!), com dolby surround. Traduzam-me lá o dolby surround.
Com o som "ai fai" conseguimos suprimir aparelhagem de alta fidelidade.
Acho isto perfeitamente normal, agora substituir trocar a lingua portuguesa pela inglesa só porque sim, acho merdoso.
At 8:19 da tarde,
Unknown said…
Sobre o inglês na musica, o assunto é outro. Há tanto por dizer sobre isto. Defendo que cada um deve cantar aquilo com que se sente mais à vontade. Segundo esta teoria,logicamente o portugues seria a primeira opção. Porque é que não acontece?
Na minha opinião, não acontece por preguiça, falta de jeito e de tomates. Falo por mim, que tenho uma banda que canta 99% em inglês.
O inglês na musica portuguesa já vem desde os 70/80's, e solidificou nos 90's. O ingles no rock escorrega que nem jeropiga com castanhas, enquanto o português é uma lingua mais dificil (leia-se dificil e não pior) de encaixar. Podia começar já amanha a cantar em porugues, mas se tudo for escrito sem o cuidado das silabas, da metrica do encaixe das vogais com a musica, tudo sai merdoso. Sai tipo anjos: o amoooooor, o teu ocoraçãããããão, vais partiiiiiiir, para o suuuuul, tu ééééééés.
Agora se me falarem no Sergio Godinho ou no Manuel Cruz dos Pluto, que são mestres no ritmo da palavra e são talentosos musicalmente, o caso muda de figura.
Resumindo: O português é bonito demais e complicado demais para ser usado de maneira leviana. Ou se faz bem, ou mais vale estar quieto ou cantar em inglês. No ingles tudo sai beme o inglês até serve de capa para poderes dizer coisas feias sem ninguém saber :)
Podes dizer "you motherfucker! Suck my cock you son of a bitch" quantas vezes quiseres que é giro e é rock n' roll. Se disseres "Seu filho da puta, anda cá e mama me no cilindro" já vêm as associações de pais dizer que se calhar isto não é bom para os nossos filhos.
Costumo ter um exemplo muito bom para isto que é o do Legendary Tiger Man. O gajo lançou um disco ou single, que era o "Fuck christmas baby, I got the blues!". Se o gajo cantasse em Portugues ele NUNCA tinha lançado o album com esse titulo, nunca alguem autorizaria um titulo como " Que se foda o natal! Eu tenho o fado!"
Pra mim é isto.
At 9:21 da tarde,
Anónimo said…
Hoje vieram pedir "Pão por Deus" a minha casa 13 miúdos! Fiquei sem capuchinhos vermelhos e avozinhas! É sempre bom incutir as nossas tradições aos putos mais novos! Foram todos satisfeitos para casa com os bolsos cheios de carne e largaram imediatamente os doces, que fazem mal aos dentes!
At 9:50 da tarde,
ZuLu said…
Cuidado, que isso de dar carne a criancinhas dá cana...
Para a próxima dá fruta aos meninos.
At 11:18 da manhã,
Cão com Pulgas said…
Em minha casa não se usa o pai natal nem o menino Jesus. Quem dá as prendas é a Leopoldina do Mundo Encantado dos Brinquedos.
At 3:17 da tarde,
Anónimo said…
Será que alguém me pode explicar por que é que há uma urbanização em Leiria chamada "Hill Side" e o que é que isto quer dizer?
Estou farto de perguntar aos meus amigos, a jornalistas, a funcionários da CM Leiria e a imobiliárias e ninguém me sabe explicar. Mas todos são unânimes em afirmar que é um nome sofisticado e moderno!
At 5:19 da tarde,
Bruno Monteiro said…
- Tanta coisa junta...
- Não me preocupa o uso do inglês.
- Salvar o português não deverá ter como solução reprimir o inglês.
- Descobri que mais do que querer ser um português, quero ser um cidadão do mundo.
- É fácil descobrir que o uso do inglês nos eleva em muito a capacidade de receber aquilo que o mundo tem para nos dar.
- Que diferença há entre Halloween ou Dia das Bruxas... As pessoas podem brincar, sorrir, chorar, amar, etc... das duas maneiras. Isso é o interessante, para mim.
- Como salvar o português? Não sei... sei que é bom ter acesso a culturas de outros povos, e nesse aspecto a língua inglesa é mais capaz de ajudar que qualquer outra forma de comunicação.
- Gostava de salvar o português, mas receio que fechar a porta não será a melhor solução.
- As tradições já não me dizem nada... Tenho certas vontades e quando é natal normalmente não tenho vontade de estar onde estou, e o mesmo sentimento deve atacar as outras pessoas da minha família. Nota-se o frete que fazem. Quando assim é para que interessa a tradição? Acho que as pessoas deviam fazer mais coisas quando têm vontade... Não é necessário esperar pelo dia da tradição. É importante haver vontade.
- Eu sei que não sou muito patriota, mas faço o meu melhor.
- Educação, bom senso, amor... em português, inglês ou japonês.
At 10:05 da tarde,
Anónimo said…
That's it, my man! Português, inglês, swaili, whatever...
At 3:44 da tarde,
Bruno Monteiro said…
Anarquista, vou responder por mim... apesar de não ter percebido bem se o que escreveste foi baseado na meu anterior comentário. Não parece lá muito, mas...
Pois não se pode ser um bom cidadão do mundo se não se for bom cidadão no seu país, na sua terra. Tem lógica... Nada daquilo que eu escrevi antes está perto de dizer o contrário.
Um cidadão com vergonha da cultura do seu povo é um ser humano mais podre... é pobre apenas porque não tem o prazer de se identificar com o seu país, de resto pode ser um gajo como outro qualquer. Quanto a mim existem coisas de que me orgulho e outras nem tanto. Mas não gosto das coisas somente por serem da minha terra.
Claro que a abertura a outras culturas não significa destruir a nossa... Não disse o contrário... Alias o que se discutia era o fecho a outras culturas para proteger as nossas, o que é bastante diferente. Devemos proteger-nos, mas com cuidado.
A negação de ser português... Também não escrevi nada sobre isso.
Para mim também são bem vindos... Aqueles que vêm por bem, os outros não, como é natural.
A falta de patriotismo não me chateia... O que me chateia é a falta de homens de valor. Se eles aparecerem, com certeza vamo-nos safar.
At 2:52 da tarde,
Papa Ratzi said…
Caro Benleumas,
podemos ter tido um passado grande mas soubémo-lo perder. Não renego o passado nacional, com as suas riquezas ou pobrezas. Mas também não coloco esse passado num altar. O nosso passado grande significou opressão para outros povos e oportunidades perdidas para o nosso desenvolvimento. Quando dominávamos o comercio do Oriente, em vez de se ter aproveitado para utilizar os proveitos dessa riqueza para desenvolver Portugal era hábito importar tudo e mais qualquer coisa do estrangeiro. Assim certamente era mais fácil...
Com o ouro e os diamantes do Brasil, repetiu-se a situação.
Hoje somos um pequeno país. Os grandes impérios não duram para sempre. Hoje somos nós, e muitos outros, a ser colonizados. Desta forma, as influências que nos chegam têm um único sentido: de lá para cá. Fumamos Marlboro, bebemos Coca Cola, vemos os jogos da NBA ou os filmes de Hollywood, ouvimos a música deles mesmo que não a entendamos, adoptamos as tradições e a língua deles e por aí adiante. E eles? Fumam SG? Bebem Sagres? Conhecem o nosso futebol? Já alguma vez viram um filme português ou conhecem a nossa música? Sabem onde fica o nosso país?
Não considero prejudiciais as influências que vêm de fora desde que recebam igualmente as nossas. Se houvesse essa troca todos ficariamos a ganhar. Como não acontece desta forma, eles ganham e nós perdemos.
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